quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Como Jesus cuidava das pessoas. Parte I




Amor Surpreendente

Uma das características do cuidado que Jesus praticava era o de surpreender a pessoa com suas atitudes – relembrem Marta e Maria, Zaqueu, a mulher que ungiu Jesus, a samaritana no poço. Isto quer dizer que Ele não se deixa prender pelas expectativas que as pessoas projetam sobre Ele.


Com este surpreender, Jesus traz para frente o que estava na margem: a “boa parte” de Maria, irmã de Marta; o coração sofredor de Zaqueu; o amor da mulher que o ungiu; a sede interna da mulher do poço. Mostrar o que está oculto lembra as parábolas que Jesus contou sobre encontrar o que estava perdido.

As ações de Jesus Cristo consagram-no como aquele que cuida de nosso ser, e resgata em nós o que estava perdido, oculto pelas aparências, pelas defesas. Podemos dizer que Jesus ressalta coisas que as pessoas já não percebem mais. Mas atenção: o cuidado de Jesus não é no sentido de revelar o pecado oculto; não, muito pelo contrário: seu alvo é revelar o afeto que estava oculto – a capacidade de amar, a sede de ser amado – como em todos aqueles exemplos.

Como conseqüência, o pecado até parece, mas em outra dimensão que não a da acusação: o pecado é ligado com o amor oculto, interpretado como desvio do alvo original, como tentativa falhada de buscar o que faltava – este é o significado do dinheiro de Zaqueu e dos maridos da samaritana.

Na psicanálise se diz que a cura acontece quando o sintoma é ligado ao conteúdo que estava reprimido, porque dessa forma o sintoma perde o sentido. Algo semelhante acontece com as pessoas que são cuidadas por Jesus: Zaqueu devolve o dinheiro, a samaritana sabe que tem sede, Marta reorienta seu desejo de adorar pelo servir.

O cuidado pela via do amor desmancha a carcaça de defesa que estas pessoas montaram ao redor de si e, desta forma, “pega-as pelo contrapé”. Pode-se imaginar o que teria acontecido se Jesus tivesse ido pelo caminho – infelizmente muito comum nos meios cristãos – de denunciar diretamente o pecado: como seria a conversa com Zaqueu? E com a mulher do poço? Teria levado a este impacto? Resultaria em mudança de vida?

Mas o que estava por trás da atitude de Jesus? Será que é algo que podemos aprender, ou faz parte de capacidades sobrenaturais que só Ele tem?

O evangelho de João registra na oração de despedida de Jesus uma espécie de resumo do seu ministério e do que realmente importa: a vida eterna é esta: que eles conheçam a Ti, que és o único Deus verdadeiro; e conheçam também Jesus Cristo, que enviaste ao mundo (Jo 17.3). O cuidado ministrado por Jesus tinha como objetivo maior revelar a Deus como aquele que tem o poder de reconectar a pessoa com sua essência e, desta forma, saciar a sede interior. Jesus não usava seu tempo para revelar o pecado em si, mas para mostrar o amor do Pai, e deixar que a percepção deste amor iniciasse a restauração e livrasse as pessoas dos caminhos insensatos.

Na verdade, muitas pessoas têm dificuldades em receber e dar amor. Este olhar crítico é característico de uma das doenças mais comuns dos tempos atuais: a neurose obsessiva. Teoricamente, trata-se de uma pessoa que regrediu na sua forma de lidar com o amor. Isto porque experimentou impulsos amorosos e agressivos intensos, que foram sentidos como ameaçadores, a ponto de precisarem ser reprimidos. Da combinação do amor reprimido e das defesas contra o reaparecimento do mesmo, resultaram estas características estranhas: a pessoa trata a si própria com rigor torturante, preocupando-se até as minúcias para cumprir regras, acusa-se de tudo nos mínimos detalhes, controla a si e aos outros, leva tudo para o plano intelectual, e assim não sente nem expressa afeto.

Essa deformação neurótica também contamina a religiosidade: em vez de amor e alegria, há controle, repressão, medo do pecado, sufocamento do afeto, culpabilização de si e dos outros. Esse quadro combina com as denuncias feitas por Jesus contra os fariseus, a quem chamou de “sepulcros caiados” – pessoas que sufocaram os impulsos e descoloriram sua vida. Por dentro há morte, há enrijecimento de vida, restando apenas o controle mecânico e o apego às regras. Esta é uma forma de distorção do amor. A religiosidade obsessiva, tão controladora de si e dos outros, expressa doentiamente, na forma de sintoma, a perda da conexão íntima com o “Aba Pai”, o pai querido.

O cuidado de Cristo, portanto, quer ajudar você a perceber o amor do Pai e a reconectar-se com esta fonte de amor maior. Neste sentido Jesus se apresenta como via de religação: Eu sou o caminho, a verdade e a vida: ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim. (Jo 14.6).

Bíblia de Estudo - Conselheira.

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