quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O velho violino




por Breno Isernhagen




Era uma sala bem iluminada, com decoração aconchegante e pessoas sofisticadas circulando entre objetos raros e caros. Várias cadeiras cuidadosamente arrumadas em filas, prontas para o grande leilão que estava para começar.

Esquecido em um canto, entre quadros e porcelanas, descansava um velho violino. Com a pintura mostrando sinais de uso e seu estojo revelando anos de viagens pelo mundo, o antigo instrumento era ignorado por todos. Todos, menos um senhor de cabelos bem brancos, barba cuidadosamente aparada e terno elegante, que observava aquele objeto com um brilho maroto nos olhos.

Teve início o grande leilão. Lances milionários eram lançados ao ar com a facilidade que as grandes fortunas permitiam. Objetos do desejo de muitos eram arrebatados pelo dinheiro de poucos. Lances vinham, lances iam, chegara a vez do violino.

Apesar dos esforços do leiloeiro, ninguém se interessava por um velho instrumento que parecia ter pouco valor de revenda, muito menos serviria como decoração. Todos continuavam desprezando aquilo que, para eles, era apenas um objeto qualquer. Todos, menos o senhor de cabelos bem brancos, barba cuidadosamente aparada e terno elegante.

Calmamente, ele pediu licença para experimentar o violino, tocá-lo, “só para tirar uma última dúvida” dizia. Então, num gesto reverente e suave, tomou o objeto em uma das mãos, o arco em outra e iniciou uma doce melodia. O que antes era um simples objeto revelou-se pura magia. Aquele violino, tocado pelas mãos de um mestre, passara rapidamente da posição de desprezado para a de objeto de desejo. Nas mãos daquele senhor, libertara seu potencial e encantava a todos com notas de fantasia.

Todos passaram a querer o velho violino, todos desejavam agora possuí-lo. Todos, e também o velho senhor, que não queria nenhum objeto aquela noite, apenas o violino de seus sonhos, aquele que habitara seu coração durante uma vida inteira de concertos e grandes espetáculos, aquele Stradivarius “perdido”, que aparecera jogado em um canto de uma sala de leilão. O lance mais alto naquele dia foi o dele, pois, naquele leilão, onde as pessoas compravam objetos, ele estava comprando seu próprio sonho.


Já se sentiu como este velho violino?

A vida já te jogou num canto escuro, depois de uma vida de surras e melodias mal tocadas?

Em alguns momentos de nossas vidas caímos nas mãos de músicos errados. Tocamos nas dez mais das paradas do sucesso, mas escolhemos as rádios erradas. Procuramos o Carnegie Hall e só o que encontramos foi um palco esquecido num boteco de quinta categoria.

Não é para isto que você foi criado.

Deus nos vê como aquele Senhor de cabelos bem brancos, barba cuidadosamente aparada e terno elegante. Ele conhece tudo o que podemos fazer, porque por Suas mãos fomos feitos. Somos instrumentos criados para tocar Sua melodia.

Mesmo que estejamos esquecidos e empoeirados num canto, velhos violinos surrados por um mau músico que chamamos de mundo, nosso Pai já pagou o lance mais alto do leilão na cruz do Calvário.

Além disso, Deus é multi-instrumentista. Ele não se importa se você é zabumba ou violão, piano ou xilofone, cuíca ou bombardão. Quando o Senhor está fazendo um solo em você, não toca no tom errado, não desafina nem atravessa o ritmo.

Deixe tocar em sua vida a Melodia do Criador. Você pode ser um velho violino, mas tocado pelas Mãos certas, vai revelar seu verdadeiro valor.

Breno Isernhagen

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