segunda-feira, 6 de junho de 2011

Juntos nas quatro estações



É preciso mais que amor para sobreviver às mudanças climáticas do casamento.

Há muito que os casais ocidentais já não casam obrigados pelos pais ou por questões culturais.
Basta aparecer o senhor ou senhora perfeitos, e pronto, viveram felizes para sempre.
Esta seria a fórmula da união feliz se a realidade não mostrasse algo bem diferente.
Milhões de casais se separam após anos de casamento — e com filhos — ou apenas meses de relação.
Desde 1977, quando o divórcio foi legalizado no Brasil, os números não param de crescer. Segundo uma pesquisa divulgada pelo IBGE em 2003, os divórcios subiram 59,6% desde a década de 1990. O discurso é quase sempre o mesmo: a paixão esfriou e o amor acabou.
O adultério, a necessidade de espaço, o desejo de sair da rotina e até mesmo o estresse da chegada dos filhos só potencializaram a decisão.
Desde então o divórcio se tornou banal e as famílias chamadas modernas comportam novos “ex” e vários enteados.
Para Gary Chapman, é natural que a relação do casal passe por momentos de aquecimento ou esfriamento.Entretanto, tais fases — que ele chama de primavera, verão, outono e inverno —
não significam o fim da relação. “Elas vêm e vão, e cada uma traz em sí a possibilidade de saúde e felicidade emocional, além dos próprios desafios”, avalia Chapman. Ou seja, embora muitos casais interpretem o inverno como o fim de tudo, na verdade trata-se apenas de uma nova fase a dois.
O autor conta que nos 30 anos de trabalho como conselheiro matrimonial e 40 de casamento aprendeu que a entrada e a saída das estações e a sua duração dependem totalmente da atitude do casal diante das dificuldades ou desafios diários.
Enquanto alguns casais continuam juntos após uma crise séria, outros podem se separar porque o marido ronca.
Casais dizem adeus diante de problemas financeiros, enquanto outros decidem vencer juntos o alcoolismo do companheiro.
Para Chapman, o segredo é “desenvolver as habilidades necessárias para melhorar o casamento nas quatro estações”. Segundo ele, a capacidade de lidar com as mudanças já deve começar a ser desenvolvida na lua-de-mel e precisa resistir às bodas de diamante.
O que acontece na verdade é que a visão primaveril do casamento — nutrida durante todo o namoro e noivado — é tida como a base da relação. A casa está montada conforme os sonhos dos dois, o buquê da noiva já foi lançado e a lua-de-mel foi maravilhosa.
Tudo parece perfeito. No entanto, mesmo durante esse período o outono fica à espreita para mostrar que no casamento nem tudo são flores.
 Os defeitos do outro, que pareciam tão simpáticos no namoro, se transformam em grande incômodo. Ela já não faz mais todas as vontades do marido com um sorriso no rosto. Ele não traz mais flores quando chega do trabalho.
É claro que tais momentos de romantismo e gentilezas aquecem o casamento.

Mas segundo Mauro Clark, autor do livro Casamento transformado, “esse tipo de alegria, por mais real e benéfica que seja, é superficial e fugaz, uma vez que está sujeita a circunstâncias externas e relacionada com gostos e preferências pessoais”. E ele conclui: “não é um indicador confiável da qualidade e solidez de um casamento”.
Assim, não é porque o romantismo não faz parte do dia-a-dia do casal que a primavera passou. 
É na verdade o momento certo para os dois firmarem a relação sob paradigmas mais sólidos.
“Até para as pessoas que sonharam durante anos com o casamento e que julgam odiar a solidão, o matrimônio pode ser encarado como uma invasão de privacidade.

Ninguém jamais se casou sem se surpreender, e geralmente se alarmar, com a pura intensidade dessa visão”, diz Mike Mason, autor de O mistério do casamento. Tais mudanças climáticas, no entanto, nem sempre podem ser vistas por quem está de fora.
As aparências enganam, e quando o assunto é “casal cristão” isso não é diferente. Mesmo que o divórcio não faça parte do vocabulário da grande maioria dos evangélicos, essa questão jamais deve ser ignorada.
Quando isso acontece, corre-se o risco de sucumbir à hipocrisia.
 Quando se fala abertamente sobre problemas e expectativas —antes e durante o casamento — amplifica-se o nível de tolerância e cria-se espaço para mudanças pontuais no relacionamento. Seria como apelar para a previsão do tempo.
Afinal, uma tempestade pode cair num dia ensolarado. Nesse caso, é melhor ter um bom guarda-chuva a tiracolo.

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