quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Talmidim 004 - Obediência


Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu que está dizendo isto, vou lançar as redes.

Enquanto Jesus estava na praia ensinando a multidão, o coração de Pedro foi se enchendo de assombro e encantamento. Ele estava diante de um mestre jamais visto antes em Israel. Aos poucos Pedro vai reconhecendo a autoridade e a majestade de Jesus. Pedro foi percebendo que, comparado a Jesus, ele não passava de um bonequinho de pano. Então Jesus dá uma ordem: “Leve o barco mais ao fundo e lance as redes”. Pedro responde: “Nós pescamos a noite toda, somos pescadores, conhecemos esse mar e podemos dizer que a maré não está para peixe, mas, como és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”. O que é isso? Obediência.

No discipulado de Jesus, a palavra obediência é fundamental. O reconhecimento da autoridade, da grandeza, da sabedoria e, principalmente, da distância entre aquilo que somos e aquilo que Jesus é deve nos conduzir à obediência. Obedecer a Jesus é a essência do discipulado. Ser um talmid de Jesus implica o compromisso de obedecer a Jesus.

Obediência é algo muito difícil. Lembro-me de quando tive de ensinar meus filhos a obedecer. Meu filho, por exemplo, me dizia que não era possível obedecer a uma ordem que ele não entendia ou com a qual não concordava. E eu me vi em dificuldades, porque no fundo, no fundo, ele tinha razão, ou pelo menos certa razão. Quando você obedece a uma ordem com a qual concorda e uma ordem a qual entende, então você não está obedecendo, você está sendo razoável. Você está sendo obediente quando diz: “Olhe, eu não entendi, ou não concordei, se entendi não concordei, ou não entendi nem concordei, mas porque reconheço sua autoridade, vou obedecer”. Foi como Pedro se comportou em relação a Jesus. Isso é obedecer.

No seguimento de Jesus a obediência é essencial. Quem quer ser discípulo de Jesus, quem quer andar aos pés de Jesus, quem quer se deixar cobrir com a poeira dos pés de Jesus, precisa obedecer.
É no caminho de obediência, reconhecendo a autoridade de Jesus, que somos transformados e nos tornamos pessoas exatamente iguais a ele. Enquanto não estivermos dispostos a obedecer, continuaremos sendo a mesma pessoa que sempre fomos. É no caminho da obediência que Jesus nos transforma e nos faz pessoas semelhantes a ele.

Ed René Kivitz

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Talmidim - 003 - Distância


Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!

A grande ambição de um discípulo é ser igual a seu mestre. A grande ambição de um talmid é ser igual a seu rabino. Essa também é nossa ambição como discípulo de Jesus. O que queremos é mais do que saber o que ele sabe ou fazer o que ele faz. O que queremos mesmo é nos tornar pessoas iguais a ele.

Quando nos encontramos com Jesus, a primeira consciência que adquirimos é a da absoluta distância que existe entre nós e ele, entre quem é Jesus e quem nós somos. É essa a experiência de Pedro. Após uma noite inteira de tentativas frustradas de pesca, Jesus entra em seu barco e ordena que ele e seu irmão André lancem as redes. O resultado é uma pesca extraordinária. Então, ocorre uma mudança no coração de Pedro. É nessa hora que ele toma consciência da grandeza e da majestade de Jesus. Nesse momento Pedro cai ao chão e diz: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!”

Essa distância que temos de Jesus não é uma distância meramente moral. Também não é uma distância de inteligência ou de poder e capacidade. Na verdade, essa distância é uma distância de ser, de natureza de ser, que os filósofos e teólogos vão chamar de distância ontológica. É mais ou menos a distância que existe entre um boneco e um homem, entre uma boneca e uma mulher. Ser pecador, como percebeu Pedro, não é uma questão de roubar ou não roubar, mentir ou não mentir, matar ou não matar. Esse conceito de pecado fala a respeito de comportamento, e trata de ética e moral.

O conceito de pecado na Bíblia é um pouco mais profundo que isso. Na lei de Moisés o pecado era o que você fazia ou deixava de fazer. Jesus muda o enfoque e ensina que pecado é aquilo que você carrega no seu coração, suas intenções, suas motivações – você pode não matar uma pessoa, mas, se a odeia, isso já é pecado. Paulo, porém, vai dizer o seguinte: pecado não é nem o que eu faço ou deixo de fazer, nem as intenções que eu tenho ou deixo de ter, pecado é o que eu sou. Ele grita desesperado: “Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?”.

Foi para pessoas como Pedro, Paulo, você eu que Jesus veio. Jesus veio, tornou-se um de nós, porém sem pecado, isto é, sem perder a pureza de sua natureza divina. Entre nós, Jesus nos chama para andar com ele, para que, andando com Ele, sejamos completamente transformados, e a distância que faz de nós bonecos de pano diante do Homem de verdade, que é Jesus, deixe de existir. Um dia seremos pessoas exatamente iguais a Ele.

Ed. René Kivitz

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Talmidim 002 - Poeira





Jesus subiu ao monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram para junto dele. Escolheu doze [...] para que estivessem com ele.
Marcos 3.13-14



Os rabinos antigos tinham um ditado para os meninos talmidim: “Cubram-se com a poeira dos pés de seu rabino”. Um talmid deveria seguir seu mestre tão de perto, andando bem atrás dele, a ponto de, ao final do dia, estar coberto com a poeira dos pés do rabino.

O que os rabinos estavam querendo dizer é o seguinte: “Observe atentamente, ouça com atenção tudo o que seu mestre diz, não perca nenhum detalhe da vida de seu mestre, porque ele, o seu rabino, é o modelo do homem que você está se tornando”.

Essa é a essência do discipulado de Jesus. Seguir a Jesus implica prestar atenção nele, olhar atentamente para tudo o que ele faz, ouvir o que ele diz, perceber os milagres que ele realiza, imaginar e dar atenção à maneira como Jesus se relaciona com o Pai, como fala com ele, porque a grande ambição de um talmid é ser igual a seu mestre. Essa é nossa grande ambição: tornarmo-nos pessoas iguais a Jesus.

Quando me tornei discípulo de Jesus, imaginei que fosse apenas mudar de religião, e que isso implicaria acreditar em algumas coisas nas quais antes eu não acreditava, ou então participar de determinados rituais religiosos dos quais antes eu não participava. Imaginei, inclusive, que a grande questão de meu relacionamento com Jesus era que eu deveria abraçar um novo código moral e que meu discipulado com Jesus era apenas uma questão de ética. Além disso, eu imaginava que poderia contar com seus favores para resolver meus problemas cotidianos, afinal, Jesus é mestre em milagres. Mas com o passar do tempo, fui percebendo que o chamado de Jesus era muito mais profundo. Ele queria que eu me tornasse outro tipo de pessoa. Um tipo de pessoa exatamente igual a ele. Foi por isso que, quando Jesus chamou seus discípulos, os chamou para que estivessem com ele. Somente a proximidade gera intimidade. Na intimidade com Jesus somos transformados. Para que sejamos talmidim de Jesus, para que sejamos seus seguidores, precisamos andar muito perto dele. Precisamos deixar que a poeira dos pés de Jesus nos cubra.

Ed René Kivitz

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Talmidim


Talmidim é o nome de um livro do Ed René Kivitz. O livro é dividido em 365 capítulos, um para cada dia do ano. Sempre que possível, postarei aqui sobre ele. Abaixo o primeiro capítulo, fundamental para compreensão do livro todo.

Deus em Cristo vos abençoe!








Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas almas. Pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve.
Mateus 11.28-30

Os meninos em Israel começavam a estudar a Torá aos 6 anos. A Torá era a lei de Moisés, o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Aos 10 anos de idade, ao final do primeiro ciclo de estudos chamado Beit Sefer, esses meninos já haviam decorado a Torá. A partir daí alguns voltavam para casa e aprendiam o ofício da família, mas os que se destacavam continuavam num segundo estágio, o Beit Talmud. Continuavam frequentando a escola judaica e estudavam sob a orientação de um rabino, que os adotava para lhes ensinar mais profundamente a Torá e suas escolas de interpretação. Esses meninos extraordinários eram chamados talmidim, plural da palavra hebraica talmid, que o Novo Testamento traduz como discípulo.

Os meninos talmidim eram a elite intelectual de Israel. Aos 12 anos já haviam decorado todas as escrituras: os livros históricos, os livros poéticos, os livros de sabedoria, e todos os livros proféticos. Aos 14, debatiam a tradição oral, isto é, a interpretação dos rabinos a respeito da lei. Dedicavam a vida à discussão de como colocar em prática a lei de Moisés.

Cada rabino tinha sua forma de interpretar a Torá. O conjunto de regras e interpretações de um rabino era chamado de “o jugo do rabino”. Por exemplo, no tempo de Jesus existiam dois rabinos muito famosos e conceituados, Hilel e Shamai, e cada um possuía um jugo, isto é, uma interpretação da Torá, e seus talmidim. É exatamente nesse contexto que Jesus diz: “Eu também tenho um jugo, também tenho uma forma de interpretar a Torá, também tenho uma forma de dizer qual é a vontade de Deus, também tenho uma interpretação para lhes ensinar como Deus deseja que vocês vivam”.

Mas Jesus é diferente dos rabinos de sua época. Ele diz: “Os rabinos colocam sobre os seus ombros um jugo pesado, exigências absurdas, mas o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Ele faz um convite: “Seja meu talmid, faça parte do meu grupo de talmidim”. O Convite de Jesus se estende a todos e não apenas aos extraordinários. Jesus convida pessoas como você e eu. Não importa quem você é, não importa a idade, sexo, classe social, o momento de vida em que você está, não importa seu passado, não importa nem mesmo sua religião. Jesus está chamando você para andar com ele e ser um de seus discípulos.